A história do delineador, bem como boa parte das histórias de produtos de maquiagem, teve sua origem na Mesopotâmia e no Egito, por volta de 10 mil anos A.C..
E seu uso não era um hábito exclusivamente feminino. Mulheres e homens, tanto da aristocracia como de classe social mais baixa, delineavam os olhos com o objetivo de proteger essa sensível região do rosto do escaldante sol e da poeira da região em que viviam.
Minério de cobre e antimônio eram algumas das substâncias mais utilizadas para produzir o khol, uma espécie de lápis feito de osso ou de madeira. O produto só caiu em desuso após a dominação romana do Egito.
De acordo com historiadores, isso ocorreu porque o ato de delinear os olhos bem como a aplicação de outros produtos de maquiagem evocavam o estilo dos deuses egípicios. E, como sempre acontece nos processos de dominação, os dominantes costumam limpar todos os traços ligados à cultura dos povos dominados.
Curiosamente, a descoberta do túmulo de Tutankhamon, na década de 1920, está conectada à influência do uso de delineador pelas mulheres daquela época. É que a descoberta da tumba do jovem faraó se tornou “o” assunto do momento, gerando a chamada “Tutmania”. Novos drinques (exceto nos EUA, em que o período a Lei Seca americana estava em vigor), músicas que falavam sobre a descoberta da tumba do faraó, performances de danças egípcias, filmes, livros… embalagens de sabonetes… E grande parte dos lançamentos das indústrias de cosméticos e de beleza remetia à cultura egípcia, incluindo o revival do delineador.
Como era de se esperar, o boom da estética do Egito Antigo influenciou a moda. Modelagens, cores e padrões de estampas foram adotados pelo vestuário feminino. Na maquiagem, olhos esfumados de preto (com uso do kohl), rouge (o nosso atual blush) e boca pintada se tornaram marcas registradas da época. Basta lembrar do look da atriz Clara Bow. Talvez porque essa nova estética reforçava a liberação feminina, após décadas de rígido puritanismo. Era preciso dar ênfase à sua sexualidade da mulher e buscar por seus direitos.
Eis que esse ciclo terminou. O delineador só retonou à moda na virada das décadas de 1950/1960. Os olhos de gatinho feito com delineador preto das mocinhas do rock´n´roll e, para as fashionistas, em branco futurista. Coincidentemente, vivíamos uma nova onda de liberação sexual feminina, que trouxe com ela ícones como a minissaia da estilista Mary Quant, a modelo Twiggy, a atriz Liz Taylor maravilhosa no filme Cleópatra…
Nos anos 1970/1980, o delineador foi adotado pelos ídolos pops, góticos e punks (homens e mulheres, como no Egito Antigo). Quem nunca viu fotos dos cantores Boy George, Cindy Lauper, Madonna, Lou Reed ou das bandas Siouxsie and The Banshees e New York Dolls?
Desde então, o delineador passou por um período mais comportado, como parte do “make de bonita”, aquela maquiagem que a gente faz apenas para realçar um ou outro detalhe do rosto, sem grandes exageros.
Atualmente, se tornou hit entre makelovers. A diferença é que, agora, há uma profusão de cores e, graças a isso, podemos criar desenhos variados com o delineador. Até porque as novas tecnologias empregadas na produção do delineador, nos abrem muitas possibilidades. E ele pode ser usado de acordo com a criatividade de cada pessoa. Então, aproveite: estamos em um momento único, em que após anos de ditadura estética, finalmente podemos usar a maquiagem como liberdade da expressão do nosso estilo. E minha dica é: divirta-se e makeup-se!
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Na Beauty Aula do meu canal, eu tenho dois vídeos ótimos. Em um deles, ensino a técnica do delineado perfeito e, em outro, mostro como fazer um esfumado lindo usando delineador. Dá uma espiada e aproveita para se inscrever pra não perder nenhuma novidade.
E também tenho um post aqui no site, onde criei alguns delineados para você se inspirar. Vem ver!
Imagem de abertura: Modelo Ana Cruz/Foto: Bruno Bralpferr