texto: Vanessa Licciardi
Dia 15 de junho aconteceu a primeira live da série “No Backstage com…”, onde eu converso com os grandes nomes da história da maquiagem no Brasil. O meu primeiro convidado foi o Eliseu Cabral, um profissional que eu admiro muito! E como não poderia deixar de ser, ele estava lindo (e nervoso, como ele mesmo disse!) Foi uma segunda-feira muito especial!
Foi um grande privilégio poder ter essa conversa! A gente tinha tanta coisa para falar e eu, que sou muito curiosa sobre as histórias das pessoas, queria saber tudo, mas em uma live de uma hora o tempo voa! Imagine um profissional que já fez maquiagem de beleza, ópera, teatro, televisão, cinema, ou seja, só a carreira dele já daria uma série inteira!
Como tudo começou
Sua carreira começou nos anos 1980 de uma maneira muito orgânica. Usava sua própria irmã como modelo e assim viu que tinha verdadeira vocação para a profissão de maquiador. O primeiro passo profissional aconteceu depois de fazer a beleza de um amigo modelo para um ensaio fotográfico. Uma semana depois dessa sessão de fotos ele foi indicado para a produtora da revista Corpo a Corpo.
“Foi muito assustador, eu me joguei, mas foi tudo acontecendo de maneira muito natural, eu tive que me virar e de uma semana para outra me tornar profissional.” (Cabral)
Eu não consigo deixar de pensar como eram os produtos naquela época. Eu sou maquiadora há 15 anos e lembro que o meu primeiro kit, foi uma coisa bem básica da Contém 1g, que na época era bem bacana e moderna. Depois quando a Sephora chegou ao Brasil o acesso às grandes marcas internacionais ficou muito mais fácil, mas nos anos 1980 não tinha tantos produtos. Por sorte ou destino, a prima do Cabral, Célia trabalhava no setor de maquiagem na loja do Mappin. Ela se tornou sua referência e o ajudou a conhecer as marcas e os produtos. Para montar o seu primeiro kit ele foi atrás da marca Mary Stuart.
“Eu liguei para o escritório da marca dizendo que precisava de produtos para um editorial e ofereci em troca colocar os créditos na revista (Corpo a Corpo). Pedi para revista e acabei fazendo esse meio de campo entre marca e mídia. No fim eles me deram 46 produtos, uma maleta pronta para fazer o que eu precisava. Era tudo que eu tinha no começo, mas foi incrível!” (Cabral)
Em 1988 sua primeira publicação profissional com foto de Mauri Granado saiu na revista Corpo a Corpo.
Quatro anos depois, Cabral entrou para o Senac onde se especializou em caracterizações.
“Eu tive que me profissionalizar para poder entrar na televisão e lá tive aulas com Helio Sazak, um professor maravilhoso!” (Cabral)
A experiência na TV Cultura
Esse tipo de maquiagem requer muita criatividade e com certeza você já deve ter visto muitos dos personagens que ele caracterizou. Só na TV Cultura ele fez a Morgana do Castelo Ra-tim-bum e os peixinhos do Gloob-Gloob. Neste mundo de fantasia, o Cabral conta que era como estar na Disney com o cenário montado e tudo mais. A maquiagem que os profissionais da TV usavam era da marca Kryolan, mas quando fez seu teste para entrar na equipe da TV Cultura, Cabral não dispunha de muitos produtos e usou todo o seu talento para fazer uma bruxa com uma verruga no nariz feita com pedacinhos de papel e cola de cílios.
Outra assunto que eu adoro que falamos na live foi sobre a colorimetria e sua importância para equilibrar as tonalidades de pele com a temperatura da luz. Eu, como especialista em colorimetria, uso muitas técnicas desse tipo e ensino aos meus alunos a importância de conhecer bem as cores e suas interações pra um melhor resultado na maquiagem.
“A luz interfere muito, por isso nos personagens de cinema eu trabalho junto com o fotógrafo para poder equilibrar as cores. A equipe tem que se conversar e alinhar para ter um resultado esperado.” (Cabral)
Ele conta que quando fazia a Morgana cobria todo o rosto, o colo, as mãos e os braços com um tom lilás para que a luz desse aquele aspecto de uma pele pálida.
Como eu disse, o Cabral já fez os mais diversos tipos de maquiagem, e como não poderia deixar de ser, ele também fez muitas noivas. No salão, as mulheres queriam ser maquiadas por ele pois sentiam que seu trabalho as deixava exuberantes! Ele já tinha essa veia dramática da maquiagem do palco e ajustava a beleza para as noivas.
Quando perguntei sobre sucesso, ele foi categórico em dizer que o trabalho do maquiador é no backstage e o sucesso não se mede com números, mas sim com o carinho genuíno das pessoas!
No final do nosso papo ele deu uma dica muito valiosa para exercitar a criatividade e lembra que temos que buscar inspiração fora do nosso próprio trabalho, expandir o olhar para o mundo, observando a natureza, as cores e toda a beleza que o universo nos dá.
O Cabral é um artista completo e eu mal posso esperar para dividirmos um trabalho e nos encontrarmos no backstage!
O nosso papo foi incrível e se você quiser ver todos os detalhes e ouvir as histórias deste profissional super alto astral corre para o meu insta que a live está salva no IGTV (@chloe_gaya).
Assista nosso bate papo na íntegra abaixo: